Não foi a primeira vez que os americanos quebraram o Mundo

Em 1929, nas vagas da vida fácil e sedutora na capital das artes e das letras, 40 mil americanos estavam vivendo em Paris, aplicando na Bolsa e vivendo como ricos. Um bistrô da Rue de Rennes anunciava um "menu fixo" a 75 cêntimos de dólar e o franco caía ao seu patamar mais baixo: 25,5 francos por dólar.

O milionário Harry Crosby vivia de rendas, com sua mulher Caresse, gastando à "tripa forra". Seu motorista também tinha ações da Exxon e todos viviam a roda da felicidade. Hemingway mudou-se do "Flore", vizinho do "Deux Magots", porque a tietagem começava a "aglomerar". Foi reinar no "Closerie de Lilás", com direito ao garçon Jean, exclusivo de sua mesa. Incomodado com as levas de transatlânticos lotados de americanos, que continuavam a desembarcar na riviera, Scott Fitzgerald escreveu: - A cada nova horda de americanos vomitada pela maré, a qualidade cai.

Nos Estados Unidos, a Bolsa vivia o que Alan Greenspan diagnosticaria, quase 80 anos depois: a "exuberância irracional". Barbeiros e engraxates ouviam de seus clientes as últimas novidades em "papéis" de Wall Street, enquanto os motoristas de táxi espalhavam a última palavra sobre as ações mais quentes: ATT, U.S. Steel e Montgomery Ward, subindo sempre. Todo mundo pegava um "Vale" sobre o salário do mês seguinte para aplicar no negócio certo do dia.

Tal como hoje, o Fed - Banco Central dos EUA - pressionou a rede bancária para "restringir o crédito" aos corretores e desestimular os "empréstimos especulativos". A advertência foi solenemente ignorada.

A terça-feira negra, 22 de outubro de 1929, levou Harry Crosby e o poeta Hart Crane ao suicídio, como tantos milhares de beneficiários da roleta.

A "exuberância" continuou, como sabemos. Bancos financiaram corretores e fundos imobiliários, e todos seduziram compradores de casas e imóveis de luxo, sem a contra-garantia de que podiam pagar. Esses papéis foram negociados nos empréstimos interbancários e demais "derivativos", a juros sempre crescentes, por conta do alto risco.

Até que tudo explodiu. O americano comum vive endividado até o pescoço. Famílias se habituaram a ter "22 cartões de crédito", cujo pagamento mensal obedecia a um "rodízio", como numa churrascaria financeira.

O país tem a descoberto um déficit público superior a um trilhão de dólares. Tradução: "façam o que eu digo (superávit primário) , mas não o que eu faço (déficit crônico).

Que dizer: os americanos se acostumaram a comprar sem dinheiro... E estão nos convocando para pagar mais essa conta.

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