Artigo publicado essa semana em um jornal do Estado de Goiás
Para manter a tradição, republico esse artigo agora, na semana da eleição. É para tentar conscientizar você a não insistir com burradas na hora do voto...
Vá dormir às duas da manhã. Bêbado como nunca esteve na vida. Antes, coloque o alarme do celular para às 5h30. Na hora em que ele disparar, levante da cama, vá ao banheiro e olhe para o vaso: entupido com papel higiênico que você mesmo jogou. Entre no box, regule o chuveiro na posição verão e deixe a água geladíssima molhar todo seu corpo de uma vez só. Não se enxugue. Morrendo de frio, coloque uma bermuda, saia de casa sem camiseta e dê uma morosa volta pelo bairro. Volte para casa somente quando estiver tremendo de frio. Abra a geladeira, sinta o bafo gelado do eletrodoméstico e tenha outro calafrio. O motivo de abrir a geladeira é simples, só para conferir o que você já sabia: não tem nada para comer. É claro que não tem. Você não fez o supermercado.
Deite no sofá e fique trocando de canal até às oito da manhã. A cabeça dói e você sabe o porquê: ressaca. Na TV, nenhum canal lhe chama a atenção. Se começar a achar legal qualquer coisa, fique esperto, troque rapidamente de emissora e não pare novamente neste número. Deixe o controle remoto intacto por meia hora no pior programa que encontrar, seja ele culto evangélico, vendas de utensílios inúteis, clipes do CPM 22 ou até mesmo entrevista com algum deputado.
Fique sem comer nada pela manhã e vá até o caixa eletrônico mais próximo. Tire seu extrato e veja o quanto está devendo. Aproveite e pegue a fatura do cartão de crédito. Passe mais raiva. Na hora do almoço, dê uma passeada pela frente de três churrascarias de primeira, três casas de massa fantásticas e três botecos de espetinho na calçada. Passe no supermercado e compre um miojo. Vá para casa. Na hora de preparar o macarrão instantâneo, deixe-o queimar. Quando estiver grudado na panela, raspe tudo e coma. Não beba nada enquanto estiver comendo. Sinta todo gosto e lembre-se da picanha, da pizza e do espetinho de provolone que poderia estar degustando.
Já de tarde, ligue para todas as ex-namoradas que tiver contato. Pegue notícias de todas e pergunte sobre novos relacionamentos. Todos, naturalmente, são melhores que você. Tente recapitular com ela os motivos da separação. No meio do papo, afirme que você sempre soube que ela o chifrava. Se ela confirmar e pedir desculpa, diga que você sempre fez o mesmo com ela. E o que é pior, com a melhor amiga dela. Se ela tiver irmã, pode citá-la como partícipe da traição. A mulher vai lhe xingar até perder a voz. Se ela negar tudo o que você cogitou sobre chifres e dizer que tudo aquilo é absurdo, conte a mesma história sobre o que você teria feito com ela e diga que a traiu sem dó. Ainda mais sabendo que ela era fiel. As conseqüências serão drásticas.
Depois disso tudo, pegue seu título de eleitor e vá para sua seção eleitoral. Com tanto sofrimento e ódio acumulado em um dia só, não é possível que você vai insistir e votar novamente nessa corja que sempre votou em toda vida. Se bem que acho que você vai votar de novo sim, afinal de contas, existe gente que sente prazer no sofrimento. E não sei citar sofrimento maior do que quatro anos com político incompetente em cargo público.
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